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Artigo N.º 6676 - A pata nada
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Visto: 3873
Postado em: 20/11/10 às 09:16:15 por: James
Categoria: Marisa Bueloni
Link: http://www.espacojames.com.br/?cat=123&id=6676
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Marisa Bueloni


Pronto. Respirem todos, aliviados. Sobretudo os abestados. Tiririca sabe ler e escrever.Pelo menos. O examinador passou um texto para ele: A pata nada. Pata - pa. Nada - na. Da Cartilha Sodré. Ele leu e escreveu. Foi aprovado.

Escreveu, não leu, o pau comeu.

Onde come um, comem dois; onde comem dois, comem três; onde comem três, comem quatro; onde comem... Esta é a matemática gastronômica do brasileiro, certamente. Tiririca saberia contar até sete?

Sete é conta de mentiroso e mentira tem perna curta. A mentira já derrubou poderosos do trono. Coisa de perder mandato. E o sono. A mentira não usa bota sete léguas, porque não vai longe.

Piano, piano, se va lontano. Eu também acho que é de grão em grão que a galinha enche o papo.

Papo. Muita garganta. Na minha terra se diz que “fulano é paieiro”, fala demais, conta muita vantagem. Promete e não cumpre. Fala e não faz. É. Fazer é que são elas.

Depois de tantas promessas, chegou a hora de a onça beber água. Agora é que é. Ou que será. Quem já viu uma onça pintada, caminhando em direção à lagoa? Onde tem onça por perto é um perigo. Precisa ficar de vigia, este felino é esperto e começam a sumir galinhas, porcos, criação da roça. O Brasil já não é uma roça.

Mas Tiririca já provou que sabe ler e escrever. Pelo menos. Cantar o Hino Nacional ele não se arrisca. Disse que prefere deixar para a cantora Vanusa.

Foram lá, pegaram um piano, o maestro disse: lá maior. Ninguém sabia por onde começar. Ouviram do Ipiranga uma desafinada e esquecida melodia pátria, que embalou as manhãs cívicas de um povo heróico do grupo escolar.

A escola virou um lugar perigoso, de medo e insegurança. Professores das escolas públicas noturnas tremem dos pés à cabeça. O que aconteceu com a nossa amada escola d´antanho? O que aconteceu com o país?

Imagine só. Vai indo tudo tão bem, meus patrícios! Ninguém morre na fila do SUS. Mulher nenhuma dá à luz em cima de uma pia. No farol, só os faroleiros. Nenhuma criança à vista, fazendo malabares ou pedindo esmolas. Enchente com lama é ilusão de ótica, essa gente gosta de pegar num rodo. Têm o péssimo hábito de carregar uns colchões e sair andando pelas ruas com eles nas costas. Aí, quando a coisa aperta, deitam sobre as águas e sonham. Sonham com um lugarzinho decente e digno. Digno e seco, que não seja inundado pela incúria dos míopes. Ou pelas chuvas. E elas vêm aí.

Jânio veio aí, faz uns 50 anos, né? Acertei nas contas? Tinha como símbolo político uma vassoura, para varrer a roubalheira, a corrupção, a desordem. ‘Varre, varre vassourinha...” - o povo cantava. Eleito, proibiu briga de galo e mulher de biquini na tevê. Minha mãe se matava de rir. Tanto varreu que acabou abandonando o mandato, Brasília, e ainda saiu esconjurando: “Maldita cidade!”.

Brasília não carrega nenhuma maldição. Nem deve haver por lá as tais “forças ocultas”. Agora, o que deve ter de coisa que não aparece, isso é de assombrar!

Meu pai, quando perdia a paciência com algo ou alguém, dizia: “Vá assombrar porco”. Como será que se assombra porco num país de milhões de indigentes? O porco já nasce assombrado.

Eu gosto da palavra “assombro”. Mas para ser usada na poesia, meu anjo. Tipo assim:


“Ofereço-te meu ombro
Meu assombro
E minha amizade

Fica por conta
Dos velhos tempos
E da saudade...”


Ah, a saudade!... (suspiros). Do que não é capaz um coração saudoso, apaixonado, vivendo da luz do farol dos teus olhos, aquele facho voltado para trás. Epa! Esta não é do Pedro Nava, sobre a experiência? Pedro Nava fez o que tinha de ser feito. Ele sabia quando.

Ninguém sabe quando e poucos sabem o que precisa ser feito. Será que o Tiririca sabe? Lá no Planalto? Vide os rios poluídos, as cidades decadentes, obras duvidosas, os problemas se avolumando, tanta gente com demanda na justiça e trabalhadores em greve pedindo aumento. A incúria geral floresce, cresce e devora.

Vejo tudo isso - vós também o vedes, eu sei - e parece não haver saída. Como as garrafas pets atulhando um bueiro urbano. Pobre de mim, cidadã com vontade política. Só tenho 3 faculdades, um pouco de estudo e instrução. Mas nada em Economia, Política, ou Urbanismo. Fiquei nas letras da vida. Luto com palavras.

Lá vai, é irresistível: Lutar com palavras é a luta mais vã. No entanto, lutamos, mal rompe a manhã.

Dá uma vontade de terminar assim: quá, quá, quá, quá. Mas parece uma tremenda falta de respeito. Para com o país, para com o leitor, e para comigo mesma. Numa atitude cívica, eu começo aqui e você vai prosseguindo aí. “Ouviram do Ipiranga...”. Olha só, é de chorar de lindo, gente! Ó Pátria amada, idolatrada, salve, salve! Eu sei a letra de cor, inteirinha.

Bom, eu também sei ler e escrever. Quero os meus um milhão e trezentos mil votos também. Mas você não se candidatou e nem se elegeu, sua tonta! Ah, é. Esqueci.



Marisa Bueloni mora em Piracicaba, é formada em Pedagogia e Orientação Educacional - marisabueloni@ig.com.br



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