Postado em: 26/06/15 às 13:09:22 por: James
Categoria: Destaque
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Foi publicado dia 23 de junho, o Instrumentum Laboris para o Sínodo dos Bispos sobre a Família de outubro próximo. O documento de trabalho reporta à Relatio Synodi – texto conclusivo do Sínodo Extraordinário do passado ano de 2014 – e integra os contributos provenientes das respostas ao questionário que foi proposto às dioceses.
O documento está dividido em três partes: a escuta dos desafios sobre a família, o discernimento da vocação familiar e a missão da família hoje.
Desde logo, são colocadas em destaque as ‘contradições culturais’ que dizem que ‘a identidade pessoal e a intimidade afetiva devem afirmar-se numa dimensão radicalmente desvinculada da diversidade entre homem e mulher’. A remoção da diferença sexual é o problema e não a solução – pode-se ler no texto.
A família é o pilar da sociedade – diz o documento – que coloca em evidência o facto da necessidade da existência de políticas adequadas que apoiem os núcleos familiares. Ao mesmo tempo, o ‘instrumentum’ ressalta a importância da família como espaço de inclusão, nomeadamente, de categorias frágeis da população como os idosos, os viúvos e os deficientes. Também é desejada no documento uma pastoral específica para as famílias migrantes.
No Instrumentum Laboris é reafirmado o matrimónio como um sacramento indissolúvel, não deixando de recordar o acompanhamento que a Igreja deve fazer das situações de sofrimento através de uma atitude de misericórdia. Não são esquecidas também as situações de nulidade matrimonial.
Entretanto, o documento de trabalho deste Sínodo, apresenta uma atenção especial para os divorciados recasados, sendo desejada uma reflexão dobre a oportunidade de fazer cair “as formas de exclusão atualmente praticadas no campo litúrgico-pastoral, educativo e caritativo”, porque estes fiéis “não estão fora da Igreja”. Os caminhos de integração pastoral deverão, contudo, ser precedidos de um “oportuno discernimento” e realizados segundo uma lei de “gradualidade” que “respeite a maturação das consciências”.
No caso particular, da comunhão eucarística para os divorciados recasados, o documento apresenta o “comum acordo” que existe sobre a hipótese de um “caminho penitencial” sob a autoridade de um bispo.
Em relação às uniões homossexuais o documento reafirma a posição contrária da Igreja, sendo, no entanto, apresentada a ideia de que cada pessoa, independentemente, da sua tendência sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com sensibilidade e delicadeza.
Nesta síntese, uma última e fundamental referência: os filhos. O Instrumentum convida a ser valorizada a importância da adoção afirmando que “a educação de um filho deve basear-se na diferença sexual, assim como a procriação”, pois esta tem o seu fundamento “no amor conjugal entre um homem e uma mulher”.
O documento de trabalho agora apresentado conclui com uma chamada de atenção para o Jubileu da Misericórdia que terá início no próximo dia 8 de dezembro, à luz do qual se coloca este Sínodo.
A Assembleia sinodal será de 4 a 25 de outubro sobre o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. (RS)
Eis, a seguir, alguns os pontos.
Eucaristia
“A atenção e o acompanhamento em relação aos divorciados recasados civilmente devem se orientar rumo a uma integração cada vez maior deles na vida da comunidade cristã.”
Sobre o controverso tema da readmissão à comunhão, surgiu “um acordo comum sobre a hipótese de um itinerário de reconciliação ou via penitencial”. Essa formulação, no entanto, prevê duas hipóteses, subordinadas e contrapostas, que devem ser avaliadas e votadas no Sínodo.
A primeira é que o caminho penitencial, ao lado da “conscientização do fracasso e das feridas por ele produzidas” e, portanto, ao lado do “arrependimento”, seja acompanhado pela “verificação da eventual nulidade do matrimônio”.
Se essas condições não existem, o caminho penitencial deveria simplesmente levar “ao empenho à comunhão espiritual e à decisão de viver (o seu segundo matrimônio) em continência”.
A segunda hipótese, mais realista, diz respeito à possibilidade de que o caminho penitencial “sob a responsabilidade do bispo diocesano” leve ao acesso aos sacramentos. Concretamente, a hipótese é de “uma acolhida não generalizada à mesa eucarística, em algumas situações particulares e com condições bem precisas, sobretudo quando se trata de casos irreversíveis e ligados a obrigações morais em relação aos filhos que viriam a passar por sofrimentos injustos”.
O documento preparatório do Sínodo admite que “a questão ainda deve ser aprofundada”. Mas os divorciados não devem ser excluídos da possibilidade de serem padrinhos, testemunhas de bodas, leitores nas liturgias e catequistas.
Respeito aos homossexuais
“Cada pessoa, independentemente da própria tendência sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com sensibilidade e delicadeza, seja na Igreja, seja na sociedade. Seria desejável que os projetos pastorais diocesanos reservassem uma atenção específica ao acompanhamento das famílias em que vivem pessoas com tendência homossexual.”
Bodas não equiparáveis
“Não poucas são as contradições culturais que afetam a família”, incluindo a teoria de gênero e os casamentos gays. O texto incorpora aquilo que foi aprovado por maioria simples (e, portanto, formalmente não aprovado) na última assembleia, sobre o tema das famílias que têm pessoas homossexuais no seu interior.
“A esse respeito – afirma-se –, interrogamo-nos sobre qual atenção pastoral é oportuna diante dessa situação, referindo-se ao que a Igreja ensina: ‘Não existe fundamento algum para assimilar ou estabelecer analogias, nem mesmo remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimônio e a família’. No entanto, os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza”, evitando “qualquer marca de discriminação injusta”.
Casamentos mistos
“Os matrimônios mistos e os matrimônios com disparidade de culto apresentam aspectos de criticidade múltiplos e de não fácil solução, não tanto em nível normativo, mas em nível pastoral: a problemática da educação religiosa dos filhos; a participação na vida litúrgica do cônjuge”.
Do questionário que serviu para redigir o documento, surge uma proposta concreta: “Elaborar um código de boa conduta, de modo que nenhum cônjuge seja obstáculo ao caminho de fé do outro”.
Nulidades gratuitas
“Destaca-se um amplo consenso sobre a oportunidade de tornar mais acessíveis e ágeis, possivelmente gratuitos, os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade matrimonial.”
Casais de fato
“A Igreja deve ser capaz de acompanhar aqueles que vivem o casamento civil ou a coabitação, até a plenitude da união sacramental. A escolha do casamento civil ou da coabitação muitas vezes não é motivada por preconceitos ou resistências contra a união sacramental, mas por situações culturais ou contingentes. Essa vontade, que se traduz em um vínculo duradouro, confiável e aberto à vida, pode ser considerado uma condição para se inserir um caminho de crescimento aberto à possibilidade do matrimônio sacramental: um bem possível que deve ser anunciado como dom que enriquece e fortifica a vida conjugal e familiar.”
Separações
É preciso “prestar atenção”, diz o documento, “aos diferentes aspectos que determinaram a ruptura da relação matrimonial. Muitas vozes evidenciam que o drama da separação, muitas vezes, chega ao fim de longos períodos de conflitualidade que, no caso em que há filhos, produziram ainda mais sofrimento. Segue-se a isso mais uma prova da solidão em que se encontra o cônjuge que foi abandonado ou que teve a força de interromper uma convivência caracterizada por graves maus-tratos”.
Cuidado pelas famílias feridas
“Cuidar das famílias feridas – separados, divorciados, recasados – e fazê-los experimentar a infinita misericórdia de Deus é considerado por todos como um princípio fundamental.”