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Artigo N.º 11337 - Um pintor de ícones e afrescos religiosos, sem braços nem pernas, até os altares.
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Postado em: 15/08/13 às 06:37:49 por: James
Categoria: Destaque
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Grigori Zhuravliova

Um pintor de ícones e afrescos religiosos, sem braços nem pernas, até os altares.

Para o pequeno Grisha não foi fácil, mas seus pais e seus irmãos lhe apoiaram e no final ele alimentou sua família. “Não sabemos quais planos tinha Deus para ele”, disse o sacerdote que o batizou. Tem fama de santidade e pode ser canonizado.
 
O terceiro filho de María Zhuravliova nasceu em 1858. Era uma coisa pequena, um bebê que não tinha braços nem pernas.
 
Seu pai não estava em casa: havia partido para as guerras do Cáucaso. O padre do povoado foi batizar o bebê, o chamaram Gregório. Os parentes não podiam explicar: os dois pais eram sadios, seus dois irmãos mais velhos, também. Por que este menino era assim?
 
O tio do menino, que era o padrinho, ao receber o bebê para secá-lo depois de ser submergido na água batismal, resmungou:
 
-Vai menino! Só tem uma boca e nada mais…
 
- Não sabemos que planos tem Deus para ele -replicou o padre. – Porque, referindo-se à sua boca, com ela também se podem fazer grandes coisas. A boca não só serve para comer. Diz a Escritura que “no princípio existia a Palavra”. Depois verás: quem sabe tu não darás a ele de comer, ou será o contrário.
 
No carrinho e com irmãos
 
O pequeno Grisha foi acolhido por sua família, e também por seu pai, quando voltou da guerra. Fizeram-lhe um carrinho especial. Seus irmãos o levavam para todas os lados. O menino sempre estava alegre e risonho e rápido ganhou o amor de todos os vizinhos de Utiovka, a 1.200 quilômetros de Moscou, na direção da Sibéria.
 
O diácono do povoado vinha à casa para ensinar-lhe a ler e escrever. O menino, apoiando o peito contra a mesa e com um lápis entre os dentes, com esmero escrevia letras. E, descobriram com assombro, que o pequeno Grisha também desenhava. Seus vizinhos sempre o viam deitado no chão, com um carvão na boca, esboçando gente, animais, árvores…
 
Grisha, aquele menino alegre e tão especial, sempre pedia aos seus irmãos que o levassem à igreja. Eles o elevavam ali em frente de cada ícone, e o pequeno olhava as imagens sagradas, lhes falava e as lágrimas corriam por sua face.
 
Os vizinhos e o governador pagaram seus estudos
 
Em 1873, Grisha era um garoto inteligente de 15 anos, e seus vizinhos e o governador da província de Samara o mandaram estudar con seus irmãos ao colégio da capital provincial. Pagavam-lhes os estudos e o alojamento. Os outros alunos, depois de vencer suas reservas contra o novo companheiro incapacitado, o amaram. Surprendia-os sua constante alegria e sua força de ânimo, tão distintas dos altos e baixos do humor dos meninos “normais”.
 
Ali, em Samara, Gregório conheceu os pintores de ícones da atelier de Alexey Seksiaev. A atmosfera do atelier, cheio de imagens santas e cheiros de pintura, lhe enchia de alegria. Um dia se atreveu a mostrar aos pintores seus esboços. Os papeis passaram de mão em mão e se ouviam exclamações de aprovação. Então Gregório foi aceto no atelier e começou a aprender o duro ofício da iconografia mais fina.
 
Os ícones se pintavam para ser vistos à luz das velas, nas igrejas, e por isso se realizavam embaixo de uma iluminação especial. O dono do atelier pôs Grisha numa mesa especial, com correias para sustentar seu corpo encima dos quadros, deu-lhe uma lâmpada de óleo de três pavios e colocou encima da mesa uma esfera de cristal cheia de água que refletia a luz da lamparina e a transformava em um raio potente. Essa seria sua luz.
 
O irmão de Gregório aprendia o que não podia fazer o garoto sem braços nem pernas: fabricava os quadros, preparava as pinturas e a amálgama de ouro. A Gregório seu irmão punha o pincel na boca, e o jovem pintor começava a perfilar rostos, mãos e dedos, as imagens dos santos e a Bíblia.
 
Espasmos musculares
 
Era um trabalho muito duro: o quadro tinha que estar na horizontal para que não gotejasse a pintura, enquanto que o pincel tinha que levar-se perpendicularmente à superfície. Com os olhos tão perto do quadro e suspenso sobre o ícone, em um par de horas Gregório estava exausto. Vinham-lhe espasmos musculares à mandíbula pelo esforço prolongado. Para tirar o pincel tinham que aplicar compressas quentes no rosto. Mas e desenho saia certo, firme e fino. Outros, com as mãos, não podiam pintar como Gregório com os dentes.
 
Passaram os anos. Terminado o colégio e o aprendizado no atelier, Gregório e seus irmãos voltaram a Utiovka. Ali Gregório seguiu pintando ícones por encomenda. Agora as pessoas faziam filas para conseguir seus ícones. Além de sua finura e beleza, se tratava de imagens “não feitas pela mão humana”, o que lhes dava um toque de santidade adicionada. A fé dizia aos vizinhos que um incapacitado sem pernas nem braços, que conseguia pintar um ícone em tão difíceis condições, era pela ação de Deus.
 
Alimentou ao tio que lhe tinha zombado
 
A lista de espera para as encomendas era de anos inteiros. Gregório começou a ganhar dinheiro, organizou um pequeno atelier próprio, preparou um par de ajudantes e levou consigo seu tio, seu padrinho de batismo, viúvo e já envelhecido. Se cumpriu a profecia: o tio ancião foi alimentado pelo sobrinho sem braços nem pernas.
 
Para o ano de 1885, em Utióvka começaram a construir um templo dedicado à Santíssima Trindade. Convidaram Gregório para pintar os afrescos da nova igreja. Para sustentar-lo debaixo da cúpula, fabricaram uns andaimes especiais, segundo um croquis do mesmo Gregório. Seu corpo, suspenso em correias, podia mover-se assim em todas as direções. Com ele trabalhavam seu irmão mais velho e outro ajudante que o moviam, preparavam as pinturas e lhe davam os pincéis. Era um trabalho em posição incômoda, durante horas. Só uma constante oração a Cristo e à Mãe de Deus o sustinha.
 
Chagas e dor
 
As correias lhe provocavam chagas na cintura, nos omoplatas e na nuca. Os lábios se racharam, os dentes dianteiros se desgastaram e sua vista diminuiu muitíssimo. Quando, depois de uma jornada de trabalho esgotador, Gregório não podia nem morder de tanto dor na boca, sua irmã chorava: “É que és todo um mártir, Grisha”. Na solene consagração do novo templo Gregório não pôde vir por enfermidade.
 
O correio do Czar
 
Um dia veio ao povoado um mensajero do governador com uma carta muito especial: o ministro da corte imperial convidava Gregorio a São Petersburgo. Como sempre, Gregório se pôs a caminho com seus irmãos. Na capital todo o mundo queria conhecer-le: desde os colecionadores de arte que pelejavam para encomendar-lheí icones e médicos ansiosos para estudar seu caso de deficiente até estudantes de belas artes e curiosas damas da corte.
 
Finalmente visitou o imperador Alexander III com sua esposa a imperatriz Maria Fedorovna. Alexander se sentou ao lago de Gregório, e a imperatriz comentou com seu marido em francês: “Que rosto tão agradável de soldado tem”. As pessoas que estavam com Gregorio mostraram ao casal imperial os ícones do artista e presentearam um à imperatriz. O Czar pediu que Gregóorio lhe deixasse ver como trabalhava. Depois de visitá-lo em seu atelier, lhe beijou na fronte e o presenteou com seu relógio de ouro. No dia seguinte, com um decreto especial, a Gregorio lhe assinou uma pensão e carruajem por toda vida.
 
Pintar, cantar, brincar
 
Gregório com seus irmãos estiveram três anos na capital e depois voltaram ao seu povoado natal. A vida de povoado era simples: na primeira hora ia à igreja que havia pintado ele mesmo. Recordavam os vizinhos que sempre ia rodando pela grama de sua casa até o templo que estava ao lado, prescindindo da ajuda de alguém. Ali cantava com sua voz limpa e potente. Tinha encantados as crianças do povoado e sempre, para divertir-lhes, tomava um chicote com os dentes e o movia produzindo cliques ensurdecedores. Depois, tomava o café da manhã e pintava um mundo puro e santo, livre de baixezas e debilidades humanas. Assim, nos quadros de tílias e ciprestes, seu talento presenteado por Deus, dava vida a um Evangelho em cores.
 
Gregóorio pintou muitos ícones. Foi famoso em toda Rússia e em outros países ortodoxos. Mas em 1916, durante a guerra com Alemanha, ficou doente e notou que sua alegria de sempre lhe ia abandonando. Em um sonho teve uma revelação: “logo mais ninguém necessitará de mim nem de meus ícones”. Morreu pouco depois.
 
Comunistas contra os ícones
 
Chegou a Revolução, que devia “libertar o homem da superstição religiosa”. Os comunistas destruíram o campanário e esmagaram o túmulo do pintor com o veículo de lagartas-escavadeiras.
 
Os boathooks bolcheviques arrancaram os ícones das paredes de sua igreja. Como foi habitual na União Soviética, buscaram uma nova utilidade ao templo: armazém de verduras.
 
Pela noite, em segredo, os comunistas levaram os ícones de madeira da igreja ao apiário do kolkhoz , para fabricar colméias. Porém se salvaram por milagre: o apicultor Dmitri Lobachiov, também em segredo, repartiu os ícones entre os moradores, que lhe trouxeram um número correspondente de quadros e esconderam as santas imagens, pintadas sem mão humana, pela perseguição comunista.
 
O regime comunista que devia transformar o mundo durou 70 anos. Em 1989 a igreja da Santa Trindade foi devolvida à comunidade ortodoxa. A administração local doou dinheiro para restaurar o campanário. Trouxeram oito sinos. No maior deles, em honra do pintor, estava escrito “Gregório”.
 
Os ícones escondidos durante decênios começaram a regressar ao templo. Alguns voltaram feridos. Assim, uma imagem que, graças à sua decoração típica dourada havia estado em um museu de colégio, levava marcas de profanação e tinha um aspecto lamentável. Outro, tão grande que não cabia em uma parede da casa dos moradores, estava cortada pela metade.
 
Uma das vizinhas mais antigas de Utiovka pôde indicar o lugar do enterro de Gregório. Hoje em sua tumba se erige uma cruz ortodoxa.
 
Os conterrâneos do pintor promovem sua canonização. A fama de santidade já a tem, se está a espera dos milagres. A voz popular já lhe deu categoria de protetor celestial de sua terra.
 
“O pintor me moveu até Deus”
 
Em 2008 se celebrou em Samara o 150ª aniversário do nascimento de Gregório Zhuravliov. O escritor Serguey Zhigalov, autor de uma novela encarregada especialmente para dar a conhecer a vida deste extraordinário filho da terra de Samara, foi perguntado pelo correspondente de um periódico russo:
 
- Causou-lhe alguma influência seu trabalho sobre o pintor de ícones sem braços nem pernas? Ajudou-lhe Gregório Zhuravliov a entender mais profundamente a fé?
 
- Sim -respondeu Zhigalov. – A personalidade de Zhuravliov me moveu até Deus. Como dizia Leskov [um escritor russo], me “fez tocar a borda do manto de Cristo”. Sem entender a fé ortodoxa, é impossível escrever um livro assim. No processo de trabalho, conheci madre Agnia, uma monja do monastério de Nossa Senhora de Iver, que é responsável pelo atelier de ícones. E pouco a pouco eu mesmo comecei a frequentar a igreja aos domingos, confessar-me e comungar, ler as vidas dos santos. E agora, depois de ter escrito este livro, não posso mais viver de outra maneira.


Fonte: http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/



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