SANTIAGO, 27 jul (AFP) - Da mesma catedral de Santiago onde presidia sua missa quando foi degolado em um suposto ritual satânico, partiu esta terça-feira o cortejo fúnebre com o corpo do sacerdote italiano Faustino Gazziero rumo ao cemitério católico da capital chilena.

"Um golpe seco despertou nosso sofrimento. Um irmão sacerdote geme. Ferido de morte cai no chão, vítima de um ataque surpreendente quando terminava de celebrar a santa missa", afirmou em sua homilia o cardeal arcebispo de Santiago, Francisco Javier Errázuriz, ao descrever o assassinato, cometido diante de centenas de fiéis espantados na tarde de sábado.

O presidente chileno Ricardo Lagos e o prefeito de Santiago, Joaquín Lavín, compareceram ao funeral, enquanto nas proximidades do templo, muitos fiéis e curiosos aplaudiram a saída do caixão com o corpo de padre Faustino, que tinha 69 anos.

"Todos estamos tremendamente chocados com o que aconteceu, tremendamente impressionados que um fato desse possa acontecer no Chile e tremendamente chocados com a existência deste tipo de seitas", disse o presidente Lagos, um agnóstico que mantém vínculos estreitos com a Igreja Católica.

"Temos que nos esforçar para construir um país onde estes fatos não se repitam", acrescentou.

A presunção de ritual satânico se baseia nos antecedentes do assassino, Rodrigo Orias, que atacou o sacerdote com uma adaga quando o padre descia do púlpito da catedral, em meio ao choque dos fiéis que assistiam a missa.

"Por Satã", gritou o assassino no momento em que enfiou a faca no pescoço.

Orias, 25 anos, pertencia à seita satânica "Homens de Negro" na cidade de Coyhaique, 1.800 km ao sul de Santiago, onde foram registrados atos de profanação contra a igreja local nos últimos dois anos.

Depois do assassinato, uma ligação telefônica advertiu a polícia sobre novos ataques contra sacerdotes e o pároco da cidade de Coyhaique, Aldo Bernardi.

"Efetivamente estamos investigando uma ligação anônima", disse uma fonte dos serviços de investigações.

De cabelos comprido, vestido de negro e com seu corpo marcado por muitas tatuagens, Rodrigo Orias se recupera dos ferimentos que se infligiu depois de cometer o crime.

Os médicos ordenaram que ele permaneça amarrado na cama e sob o efeito de fortes sedativos, para evitar uma nova tentativa de suicídio, indicaram fontes do hospital em que está internado.

O sacerdote Alfredo Soyza-Piñeiro, diretor do Departamento de Ecumenismo do Arcebispado de Santiago, assumiu a investigação interna sobre as motivações satânicas do assassinato.

Em uma primeira análise, o religioso descartou a possibilidade do crime integrar um ritual ou uma possessão demoníaca, já que as seitas não atuam de forma pública.

O cardeal Jorge Medina, especialista no estudo do satanismo, concordou com Soyza-Piñeiro e afirmou que Orias pode ter apresentado "uma alteração mental ou uma possível influência do demônio", mas seu ato não seria uma decisão dos "Hombres de Negro", uma das 80 seitas satânicas que existem no Chile, segundo estudos recentes.

Para o sociólogo Humberto Lagos o crime apresenta características típicas de um macabro ritual satânico.

"O agressor homicida esteve presente na missa e a degolação aconteceu no final da cerimônia religiosa. O ato homicida busca o espetáculo e tem todos os elementos que se relacionam com uma seita satânica", disse Lagos.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultnot/2004/07/27/ult32u8862.jhtm