O teólogo e monge beneditino dom Estevão Bettencourt fazia sempre questão de marcar presença nas missas e nos ofícios divinos, dando exemplo para seus colegas do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro. Era conhecido por, com sua devoção, inflamar a todos com suas palavras de amor a Jesus Cristo.
D. Flávio Tavares Bettencourt, 88 anos, nasceu no Rio de Janeiro no dia 16 de Setembro de 1919 e foi para Paris com os pais em 1923 onde morou até 1928 onde iniciou seus estudos no Lycée Buffon. Após voltar para o Brasil estudou no Colégio de São Bento do Rio de Janeiro onde, de 1931 a 1935, fez o curso ginasial. Nesse Colégio e no convívio diário com os monges conheceu a vida monástica e optou por ela, ingressando no Mosteiro no dia 1º de Fevereiro de 1936 e recebendo o hábito no dia 6 de Outubro de 1937, tendo escolhido como padroeiro o primeiro mártir cristão, S. Estevão, por causa de sua devoção aos mártires da Igreja nascente.
Seus primeiros votos de profissão simples foram feitos no dia 7 de Outubro de 1937 no mosteiro do Rio de Janeiro. Em novembro de 1937, o abade do Rio de Janeiro, Dom Tomás Keller, enviou-o a Roma, para estudar Filosofia no Pontifício Ateneu de Santo Anselmo, onde obteve o grau de bacharel em 7 de novembro de 1939.
D. Estêvão fez sua Profissão Solene aos 7 de Novembro de 1940 em Monte Cassino, o mesmo Mosteiro em que Tomás de Aquino recebeu os seus primeiros ensinamentos; recebeu o Diaconato aos 12 de Julho de 1942; foi ordenado sacerdote aos 18 de Julho de 1943, na Igreja de S. Agnese na Piazza Navona, e em Novembro de 1944 defendeu a tese de Doutorado sobre Orígenes: “Doctrina Ascetica Origenis seu quid docuerit de Ratione animae humanae cum daemonibus”.
Voltou ao Rio de Janeiro em 2 de Fevereiro de 1945. Neste mesmo ano assumiu a Cátedra Bíblica na Casa de Estudos da Congregação. Lecionou também na Universidade Santa Úrsula de 1946 a 1980; na Pontifícia Universidade Católica de 1958 a 1961 e de 1968 a 1974; na Universidade Católica de Petrópolis de 1968 a 1978; no Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro desde 1985; na Escola Superior de Catequese ‘Mater Ecclesiae’, na Escola ‘Luz e Vida’ de Catequese, no Instituto Pio X do Rio de Janeiro de 1957 a 1958.
Trabalho
Retornando ao Brasil, em 2 de fevereiro de 1945, torna-se um grande educador, tendo sido professor e lecionado:
na Casa de Estudos dos Beneditinos, na cátedra de exegese (desde 1945);
na Universidade Santa Úrsula (1946 e 1980);
na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1958 a 1961 e 1968 a 1974);
na Universidade Católica de Petrópolis (1968 a 1978);
no Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro (desde 1985);
na Escola Superior de Fé e Catequese Mater Ecclesiae (1957 e 1958);
na Escola Luz e Vida de Catequese (1957 e 1958);
no Instituto Pio X do Rio de Janeiro (1957 e 1958).
D. Estevão fundou a revista católica “Pergunte Responderemos em 1957 e trabalhou nela até 2008. Foram cerca de 30.000 páginas de artigos da maior importância para a vida da Igreja e da sociedade. Isto equivale a mais de 130 livros de 200 páginas cada um. Além disso D. Estevão escreveu uma longa série de livros e textos para a Escola Mater Ecclesiae, no Curso de Teologia que pode ser feito por correspondência. É um ensinamento totalmente fiel ao Magistério da Igreja Católica recomendado a todos.
Espacojames: Clique aqui para acessar a A Revista "Pergunte e Responderemos" de Dom Estêvão Bettencourt online
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Outras publicações e traduções
Foi diretor e redator da primeira revista sobre Apologética Católica do Brasil, a Pergunte & Responderemos (PR), publicação mensal do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, desde 1957 até 2008.
Foi editor da edição brasileira da revista COMMUNIO desde sua fundação em 1982, até 2001.
Era ainda colaborador da revista mensal "Família Cristã", de São Paulo.
O Professor Edson de Castro Homem explica bem quem é D. Estevão: “De fala mansa, é vigoroso no que diz. De tom suave, é sonante no que defende. Convence pelos argumentos e não pela retórica. Insiste na concisão e no necessário, sem resvalar-se na prolixidade e na repetição. Põe a inteligência a serviço do ensino e sobretudo da difusão da fé…Pensador do século XX, debateu-se contra o fideísmo e o ceticismo, contra o relativismo e o dogmatismo, contra o niilismo e o fundamentalismo em vários autores e tendências do pensamento…Conseguiu permanecer fiel não só à metafísica, mas também à teoria do conhecimento tomista, admitindo os limites da razão em face à fé, reconhecendo a superioridade desta, mas sem humilhar nem desqualificar a razão num ‘cogito’ fechado ao ser e à transcendência porque o vê aberto e capaz de conhecer a verdade revelada e de refletir toda a realidade inclusive o Mistério’’.
Sepultamento de Dom Estevão Bettencourt.
È com profunda tristeza que coloco este vídeo aqui, pois no ano passado faleceu um GIGANTE da Igreja Católica, Dom Estêvão (Flávio) Tavares Bettencourt, nascido em 1.919 e faleceu em 2.008. Dom Estevão Bettencourt era um homem muito bondoso e defendia a Igreja, criador da revista "pergunte e responderemos" que ajudava os católicos a defenderem sua fé, esta revista (isso digo por mim, que sou um debatedor a serviço da Igreja) é uma das maiores fontes de conhecimento e de aprendizado para qualquer debatedor. Dom Estevão já debateu com vários Pastores e pessoas de outras religiões, e até ateus, sempre com a razão ao seu lado, pois ele estava defendendo a Igreja, uma pessoa imbatível!
O Site Aquinate ensina que “nestas breves linhas vemos uma grande proximidade entre a vida de Tomás de Aquino e a vida de D. Estevão. Tomás era dominicano com espírito beneditino e D. Estevão é beneditino com espírito dominicano… Como Tomás de Aquino, D. Estevão não se vale do argumento de autoridade da verdade de fé para convencer, senão que pelo trilho da razão, aproxima o interlocutor ao conteúdo da fé. Nele vemos o labor de conciliar a fé e a razão. Talvez este tenha sido o seu grande trabalho ao longo destas quase cinco décadas. Mas o grande exemplo é a coerência no ideal de vida cristã… Nele encontramos o ideal dominicano de Tomás de Aquino ‘contemplata aliis tradere’ [dar aos outros as coisas contempladas], plasmado numa vida religiosa beneditina de ‘ora et labora’ [oração e trabalho].”
D. Estevão Bettencourt é um exemplo de sacerdote “sábio, douto e santo”, como recomendava S. Teresa de Ávila às suas irmãs. Questionado se não lhe incomodava muito os inúmeros emails e perguntas que recebia, sua resposta foi: “Dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria a Deus”.
Dom Estevão Bettencourt morreu na manhã da segunda-feira, às 6h, vítima de infarto, aos 89 anos. O seu sepultamento aconteceu na própria segunda, no claustro do mosteiro, após a celebração das exéquias, na igreja abacial.
"Aliás, 'que é a verdade?', já perguntava Pilatos (Jo 18,38). Existe a verdade? A sociedade contemporânea tende a relativizá-la, principalmente quando se trata de explicar o mistério do homem. As ciências naturais, em seu progresso constante, são cautelosas ao propor suas teses: o que hoje parece ser a verdade em Física, em Astronomia, em Biologia... amanhã poderá ser tido como erro. A Filosofia moderna é crítica e, por vezes, cética no tocante à possibilidade de atingir a verdade. Todavia é precisamente neste mundo que o cristão há de ter a coragem de afirmar que ele conhece a Verdade, não por ser mais inteligente do que os seus semelhantes, mas porque Deus lhe revelou o verdadeiro sentido do homem e da vida.
Que falta então ao mundo de hoje? – Pode-se dizer que lhe falta o testemunho mais lúcido da verdade revelada por Deus e confiada aos discípulos de Cristo. 'Vós sois o sal da terra', diz o Senhor. 'Mas, se o sal perder o seu sabor, com que o salgaremos?' (Mt 5,13). Os tempos confusos, cheios de linhas cruzadas e contradições fantasiosas em que vivemos, parecem estar interpelando o sal da terra e pedindo-lhe que não deixe dissolver-se o seu sabor. É a graça de Deus que salva o mundo... graça desse Deus que quer agir entre os homens mediante os homens numa continuada encarnação. Daí a pergunta: que fazes, cristão, do teu Batismo? Que fazes da tua Eucaristia? Que fazes da Palavra da Verdade que te foi entregue graciosamente para que amasses e irradiasses? Ama a Verdade e realiza o teu martyrion (testemunho) até as últimas conseqüências, ainda que isto te custe a própria vida. Dar a vida pela verdade é precioso e indispensável serviço aos irmãos, é fonte de profunda alegria."
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 449, Outubro/1999