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Artigo N.º 5909 - Nem um dia sequer...
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Postado em: 12/08/10 às 11:15:19 por: James
Categoria: Marisa Bueloni
Link: http://www.espacojames.com.br/?cat=123&id=5909
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(Marisa Bueloni)

* Meu pai enrolava entre os dedos um cigarro de palha caprichoso. Moviam-se ali tantos segredos daquele fumo sempre bem cheiroso. Meu pai me oferecia um pedacinho do fumo preto para que eu cheirasse. “Faz espirrar!” – dizia com carinho, esperando que em seguida eu espirrasse. E num espirro, a saudade bate. Meu coração mais uma vez se abate e nas lembranças, triste, me retiro. Ó pai querido, não me queres triste. Posso senti-lo, desde que partiste, quero espirrar... e só suspiro!..

 

* Se o céu desabar, não haverá como sair de baixo. Feliz de quem construiu seu próprio refúgio dentro do coração. É coisa espiritual, que não se compra com dinheiro do mundo. Não é coisa física, tipo uma construção segura, senhores. Ah, morte, serás invocada em desespero e não virás!

 

* Ele lembra que dançamos três músicas seguidas. Eu me lembro que gostava de dançar, de valsar, de viver muitas vidas. Aos 15 anos, pode ser diferente?

 

* Os homens gostam de fazer a corte às mulheres. Clarice eternizou a abordagem masculina num texto onde ela conta do homem da fronteira, que a convidou para um “passeíto”. Hummm... A escritora, como sempre, espertíssima. Clarice romantizou o evento numa crônica soberba e respondeu: “Eu, hein?”.

 

* Ofereço-te meu ombro, meu assombro e minha amizade. Fica por conta dos velhos tempos e da saudade.

 

* Vá lá. Ainda estou nocauteada de sonho. Mas também indignada. As coisas dão uma volta muito longa para chegar onde desejam. Dona Vida é cheia de nove horas, reparou? Ela se adianta, se atrasa, chega no meio da festa e, às vezes, sai de fininho. Ninguém pode abrir a boca. Resta um caixão tristíssimo, flores de um perfume ruim, uma cova na terra, a conta maior que tiveste em vida.

 

* É de bom tamanho, nem largo nem fundo. É a parte que te cabe neste latifúndio.

 

* Durante a confissão, num momento inspirado, em que os santos nos altares pararam para ouvi-lo, o frei disse: “Minha filha, Deus conhece o barro de que fomos feitos”.

 

 

* As coisas da Terra são sempre muito sombrias. Devem ser mais belas e mais alegres as do Céu. Buscai as coisas do Alto. É para as alturas que dirijo meu olhar solene, à espera de solenidades.

 

* Vai, vai mesmo. Eu não quero você mais, nunca mais. Tenha santa paciência, ponha a mão na consciência e vê se me deixa em paz. Aí neste samba tem uma mistura pronominal. Que não tira a beleza da obra, no entanto. Os sambinhas de antigamente eram todos assim, inocentes. Você mulher, que já viveu, que já sofreu, não minta. Um triste adeus, nos olhos seus, a gente vê, mulher de trinta.

 

* Roberto, por gentileza, faz uma música para as acima dos 50?

 

* Na vertigem da vida, quero a voragem do que não acontece. Do sonho não realizado. Da sorte que nunca tivemos. Do concurso que não ganhamos. Do encontro jamais tido. Do beijo não dado. Dá para entender? Melhor o mistério eterno, que a revelação absoluta, escandalosa e cruel. Essas deixam marcas e a gente tem um medo colossal delas. Ou não?

 

* Declaração de amor em tempos de violência explícita: PARE COM ISSO OU EU CHAMO A POLÍCIA.

 

* Ah, aqui no campo, quando a usina de cana apita!... Desperta-me o senso das andorinhas. Alisa-me a rosa dos ventos. Acordo do sono dos séculos. Abraça-me a força de que todos precisamos para ir em frente.

 

* Dou um comando cerebral e o corpo obedece. Ele responde as minhas ordens. Não preciso mais que isso. Ordenar que tudo funcione conforme o Criador nos fez. Engrenagem perfeita. Mais ali na frente, naquela curva, haverá uma rosa orvalhada. Será que chego lá?

 

* Tem hora em que a gente quer desabafar com o leitor um assunto especial, e escrever umas coisas proibidas. Sabe aquela parte - a melhor, sempre - que fica nas entrelinhas?... Então. Aquilo que se pensa e não se diz?

 

* Sabe quando a visita já acabou, nos despedimos, e paramos um pouco no portão da rua? Aquele restinho de conversa ali não é sempre o melhor? Melhor e mais profundo do que tudo o que foi dito lá na sala?

 

* Minha irmã mais velha é sábia e repete sempre este ditado: “Você é escravo da sua palavra e rei do seu silêncio”. Quero ser a rainha de mim mesma, enquanto viver. A não ser que caia em desgraça. Ninguém tá livre, fala sério.

 

* Ocê caiu nos braços de Morfeia e eu,

que não sou besta nem nada,

de Morfeu.

Meu!

Eita deus dos bão!

Ele vem alisano a gente, fazeno uns cafuné,

começa lá pelos pé.

Né?

Aí, vai subino, subino

e quando a gente vê,

a gente tá durmino!...

 

* Olho as frutas verdes e a floração de algumas coisas imperecíveis à minha volta. Maturação, parto, sonho. Adivinho um perigoso fragor de astros caindo. O rumor do canavial ao vento, o coração da Terra pulsando. O Sol se move entre as palavras. Perdida de amor, pergunto: Deus, por que fizestes tudo isso, assim, sem ao menos nos avisar?

 

* Uma vez, quando a manhã se abria, me fechei. Foi a pior coisa que fiz na minha vida. O coração não pode se fechar. Nunca. Nem um dia sequer. Não é verdade, meu anjo?

 


 


Marisa Bueloni mora em Piracicaba, é formada em Pedagogia e Orientação Educacional – marisabueloni@ig.com.br



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