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Artigo N.º 10515 - Maria Valtorta: O Evangelho como me foi revelado - Parte 3
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Postado em: 09/01/13 às 00:19:18 por: James
Categoria: Livro Aberto
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Artigo N.º 10514 - Maria Valtorta: O Evangelho como me foi revelado - Parte 2

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Desespero e suicídio de Judas Iscariotes. Teria ainda podido salvar-se se tivesse se arrependido.

31 de março de 1944. Sexta Feira da Paixão, duas horas da madrugada.

Eis a minha penosíssima visão destas primeiras horas da sexta-feira da Paixão, que se apresentou enquanto eu celebrava a Hora de Maria Desolada, porque eu havia pensado em passar a noite que precede a Profissão em companhia da Virgem das Sete Dores fosse a mais bela preparação para a Profissão.



Estou vendo Judas. Ele esta sozinho. Vestido de amarelo claro e com um cordão vermelho na cintura. O meu monitor interno me adverte que há pouco Jesus foi capturado, e que Judas, tendo fugido, logo depois da captura, esta dominado por um contraste de pensamentos. De fato, Judas esta parecendo um animal furioso, perseguido por um bando de mastins. Cada sopro do vento sobre a folhagem, o ruído feito por alguém que lá vai pela estrada, o gemido de uma pequena fonte o fazem estremecer e virar-se, com suspeita e terror, como se tivesse sendo alcançado por algum carrasco. Ele vira a cabeça, conservando-a baixa, com o pescoço meio torcido, move os olhos, como quem quer ver, mas está com medo de ver, e, se a claridade da lua cria alguma sombra com alguma aparência de uma pessoa humana, ele arregala os olhos, dá um salto para trás, torna-se mais lívido do que estava, para por um instante, e depois foge precipitadamente, voltando sobre os passos, escapulindo por outros becos, até que algum outro rumor, ou outro lampejo de luz o faça voltar para trás, e fugir com alguma outra intenção.

No seu andar de doido, ele vai indo assim para o centro da cidade. Mas um clamor do povo o adverte que ele está perto da casa do Caifás, e, então, levando as mãos à cabeça e curvando-se, como se aqueles gritos fossem outras tantas pedras, que já estão caindo sobre ele, e ele foge sem parar. E, ao fugir, ele toma outra estradinha, que o leva diretamente à casa, onde foi consumada a Ceia. Ele só o percebe quando já está diante da casa, e, por uma pequena fonte que faz ruído, e que se ouve daquele ponto da estrada. O ruído choroso da água, que goteja e cai na pequena bacia de pedra, e um assovio débil do vento que, insinuando-se pela estrada estreita, solta como que um lamento meio sufocado, todas aquelas coisas o fazem lembrar-se do pranto do Traído e dos lamentos do Supliciado. Ele tapa os ouvidos para não ficar ouvindo, e saí de lá, com os olhos fechados para não ver aquela porta, pela qual, poucas horas antes, ele passou com o Mestre, e pela qual ele saiu para ir ao encontro dos homens armados, para capturá-Lo.



Ao correr assim como um cego, ele vai esbarrar contra um cão vadio, o primeiro cão que eu vejo, desde quando comecei a ter as visões, um cão grande, cinzento e arrepiado que, esta pronto para pular sobre o seu perturbador. Judas abre os olhos, e eles vão ao encontro de duas pupilas fosforescentes, que o estão fitando, e vê a brancura dos dentes descobertos, que parecem ter um riso diabólico. Judas dá um urro de terror. O cão, que talvez entenda que aquele urro é uma ameaça, se arroja contra ele, e os dois rolam na poeira. Judas por baixo, paralisado pelo medo, e o cão em cima dele. Quando o animal deixou sua presa, talvez julgada indigna de uma luta, Judas esta sangrando, com duas ou três mordidas, e seu manto está com dois ou três rasgões.

Uma das mordidas o pegou bem na face, justamente no ponto em que ele beijou Jesus. Sua face sangra, e o sangue suja a veste amarela de Judas, no pescoço. Ela forma uma espécie de colar de sangue, ao embeber o cordão vermelho que aperta a veste no pescoço, fazendo-o ficar mais vermelho ainda. Judas, levando a mão ao rosto, e olhando o cão que se afasta, mas que o está fitando pela abertura de uma porta, murmura: “Belzebu!” e, com um novo grito, foge acompanhado pelo cão, ainda por algum tempo. Ele foge ate a pequena fonte que fica perto do Getsêmani. Lá, seja por estar ele cansado, seja porque talvez ele fosse hidrófobo e se afasta da água, o cão, rosnando, deixa a presa para trás. Judas que havia pulado na torrente, afim de apanhar umas pedras para atirar no cão, vê que ele se afastou, olha ao redor de si, e vê que a água já esta chegando à altura da metade da barriga de sua perna. Sem preocupar-se com sua roupa, que cada vez vai ficando mais molhada, ele se curva sobre a água e bebe dela, como se estivesse atacado pelo calor de uma febre, vê o rosto, que esta sangrando, e deve estar doendo.

À luz de um primeiro despertar da aurora, ele volta para o leito do rio. Mas ele torna a subir ao outro lado, como se tivesse ainda medo do cão, e não tivesse coragem de voltar para a cidade. Ele anda ainda alguns metros, e vê que se encontra na entrada do Horto das Oliveiras. E grita: “Não! Não!”, reconhecendo o lugar onde está. Mas depois, não sei por qual força irresistível, ou por qual sadismo satânico e criminoso, ele anda para a frente até aquele lugar. Procura o lugar onde foi feita a captura. A terra do caminho, remexida por muitos pés, a erva pisada em certo ponto e um pouco de sangue por cima da terra, que talvez fosse o sangue de Malco, tudo isso o faz lembrar-se de que foi ele que indicou aos carrascos o Inocente.



Ele olha, fica olhando... e depois dá um grito rouco e um salto para trás. E grita dizendo: “Aquele sangue... aquele sangue!...”, e o mostra... a quem? E fica com o braço estendido e o indicador mostrando. A luz, que vai aumentando, o rosto dele que esta cor de terra e parece o de um espectro. Judas esta parecendo um doido. Seus olhos estão arregalados e luzentes como em um delírio, com os cabelos despenteados, parecendo estar eriçados sobre a cabeça, sobre a face, que vai ficando inchada e lhe torce a boca em um gesto de escárnio. Sua veste rasgada, ensanguentada, molhada, enlameada, porque a poeira se apegou à roupa molhada, e a transformou em lama, e o fez ficar parecido com um mendigo. Seu manto também esta rasgado e enlameado, e esta pendurado em um dos ombros, como um molambo, e aí ele se estonteia, e continua a gritar: “Aquele sangue, aquele sangue!” Então, ele recua, como se aquele sangue se tivesse transformado em um mar que vinha subindo, e submergindo tudo.

Judas cai deitado de costas, e fere a cabeça por detrás em uma pedra. Ele dá um gemido de dor e de medo. “Quem é?”, ele grita. Deve estar pensando que alguém o tenha feito cair para feri-lo. Então, ele se vira, aterrorizado. Mas não vê ninguém. Então se levanta. Agora o sangue esta gotejando da nuca. A mancha vermelha vai se alargando pela veste não cai na terra, porque é pouco: a veste se embebe com ele. Agora a mancha vermelha parece já estar em sua garganta.

Põe-se a caminhar. Encontra de novo o pequeno fogo aceso por Pedro, aos pés de uma oliveira. Mas ele não sabe se aquilo é obra de Pedro, e começa a pensar que Jesus é que esteve ali! E grita: “Fora! Fora!”, e com as duas mãos estendidas para frente, parece querer empurrar um fantasma que o atormenta. E conseguir escapar. E vai parar precisamente ao lado da rocha da Agonia.

A aurora já clareou bastante, e já se pode enxergar bem e sem dificuldade. Judas vê o manto de Jesus, que ficou dobrado sobre a rocha, Ele o conhece. E quer tocar nele. Mas fica com medo. Estende a mão, mas logo a retrai. Ele quer. Mas logo não quer mais. No entanto, aquele manto o fascina. Então, ele geme: “Não. Não!”. Depois diz: “Sim por Satanás! Sim. Eu quero tocar nele. Não tenho medo! Não tenho medo!” Ele diz que não tem medo, mas esta batendo os dentes de terror, e o barulho que está fazendo sobre sua cabeça um ramo de oliveira agitado pelo vento e batendo contra um tronco vizinho, faz que ele se agite de novo. Então, ele cria coragem, e agarra o manto. Depois fica rindo. É um riso de doido, de demônio. Um riso histérico, entrecortado, lúgubre, que não acaba nunca, porque ele venceu o medo.

E ele diz: “Não me fazes medo, ó Cristo. Nada mais de medo. Eu tinha tanto medo de ti, porque eu pensava que Tu eras um Deus e um forte. Agora não me causas mais medo, porque não és Deus. Tu és um pobre doido, um fraco. Nem soubeste defender-Te. Não me reduziste a cinzas, assim como também não leste em meu coração a traição. Aqueles meus medos! Que bobagem! Quando Tu estavas falando ontem de tarde, eu acreditava que ti soubesses. Mas não sabias nada. Era o meu medo que dava um tom de profecia às Tuas palavras mais comuns. Tu és um nada. Tu te deixastes vender, mostrar e prender, como um rato na toca. O teu poder! A tua origem! Ah! Ah! Ah! Palhaço! Quem é forte é Satanás. Mais forte do que Tu! Ele te venceu! Ah! Ah! Ah! O Profeta! O Messias! O Rei de Israel! Seguraste-me sujeito durante três anos! E sempre com medo no coração! E eu devia mentir  para enganar-Te com fineza, quando queria gozar a vida! Mas, mesmo que eu tivesse roubado e fornicado, sem toda aquela astucia de que eu fazia uso, Tu não me terias feito nada. Covarde! Louco! Toma agora! Toma! Eu errei, quando não te fiz o que agora estou fazendo com o teu manto, para vingar-me do tempo em que me conservaste escravo do medo. Medo de um coelho!... Toma! Toma! Toma!”.

A cada “toma” que ele diz, Judas morde e procura rasgar o pano do manto, e o amarrota entre as mãos. Mas, aos fazer isso, ele o abre, e aparecem as manchas que o ensopam. Judas para, em sua fúria. Fica fitando aquelas manchas. Toca nelas. E as cheira. São de sangue. Ele desdobra o manto todo. Esta bem visível a marca deixada pelas duas mãos sangrentas, quando elas apertavam o pano sobre o rosto.

“Ah! Sangue! O dele... Não!” Judas deixa cair o manto, e olha ao redor. Também perto da pedra, lá onde Jesus se apoiou com as costas quando o Anjo o confortava, há uma mancha escura de sangue, que estava secando. “Lá!... Lá... Sangue! Sangue!...” Ele abaixa o olhar para não ver, mas vê as ervas todas vermelhas, pelo sangue que gotejou sobre elas. Este, pelo orvalho que o conservou liquido, parece ter gotejado há pouco. Ele está vermelho, e brilha aos primeiros raios do sol. “Não! Não! Não! Não quero ver! Não posso ver esse sangue! Ajudai-me!” E levanta as mãos ate a garganta, e esbraceja, como se estivesse se afogando em um mar de sangue. “Para trás! Para trás! Deixai-me! Maldito! Mas este sangue é um mar! Esta cobrindo a terra! A terra! EE sobre a terra não há lugar para mim, porque eu não posso ver este sangue que a cobre. Eu sou o Caim do Inocente!”.

A ideia do suicídio eu acho que foi neste momento que veio ao coração dele. O rosto de Judas da medo.

Ele se joga de cima da pedra, e foge para o olival, sem voltar mais pelo caminho por onde tinha ido. Parece estar perseguido por feras. Vai voltando para a cidade. Ele se envolve no manto como pode e procura cobrir sua ferida e seu rosto, o tanto que pode.

Ele se dirige para o Templo. Mas, enquanto vai fazendo isso chega a uma encruzilhada do caminho, e se encontra com os canalhas que vão arrastando Jesus para o Palácio de Pilatos. Ele não pode retirar-se de lá, porque uma outra multidão o comprime por detrás, e correndo, vai chegando para ver. Mas, alto como ele é, domina a multidão, e vê. E dá de encontro com o olhar de Cristo... Os dois olhares se entrelaçam por um instante. Depois Cristo passa, amarrado e espancado. E Judas cai para tás, como um desmaiado. A multidão pisa nele sem dó, e ele não reage. Pois ele deve estar preferindo ser pisoteado por todo o mundo a dar-se de encontro com aquele olhar.



Quando a cachorrada deicida acabou de passar com o Mártir, e a rua ficou vazia, ele se levanta, e vai correndo para o Templo. Esbarra em um guarda colocado à porta do recinto, e quase o derruba. Outros guardas intervém para proibir ao doido de entrar. Mas ele, como um touro furioso, afasta todos. Um deles, que teima em impedir-lhe a passagem, para penetrar o salão do Sinédrio, onde ainda estão todos discutindo, é agarrado pelo pescoço e jogado, se não morto, mas já moribundo, dos três degraus para baixo.

“O vosso dinheiro, ó malditos, eu não quero”, grita ele, justamente no meio do salão, no lugar onde antes esteve Jesus. Judas parece um demônio, que saiu das profundezas do inferno. Todo ensanguentado, despenteado, afogueado pelo delírio, babando, com as mãos em forma de garras, ele grita, mas parece estar latindo, pelo tanto que sua voz esta estridente, rouca, uivante. “O vosso dinheiro, ó malditos, eu não quero. Vos me desgraçastes. E me fizestes cometer o maior dos pecados. Como vós, como vós eu também estou maldito. Eu trai o Sangue inocente. Recaia sobre vós aquele Sangue e a minha morte sobre vós... Não! Ah!... Judas esta vendo o pavimento todo molhado de sangue. Até aqui, até aqui há sangue? Por toda parte! Por toda parte esta o sangue dele. Mas, quanto sangue deverá ter o Cordeiro de Deus, para cobri com ele assim a Terra, e não morrer por isso? E fui eu que o derramei! Mas por instigação vossa! Malditos! Malditos! Malditos para sempre! Malditas sejam esta paredes! Maldito seja este Templo que foi profanado! Maldição para o Pontífice deicida. Maldição para os sacerdotes indignos, para os doutores falsos, para os fariseus hipócritas, para os judeus cruéis, para os escribas enganadores! Maldição para mim! Para mim! Tomai o vosso dinheiro, e que ele vos estrangule a alma na garganta, como a mim vai fazer a corda”, e ele atira para longe a bolsa, na presença de Caifás.

Ninguém ousa segurá-lo.

Ele sai. Vai correndo pelas ruas. E, inevitavelmente, ele torna a encontrar-se mais outras vezes com Jesus, que vai sendo levado para Herodes, ou que de lá vai sendo trazido. Ele abandona o centro da cidade e, tomando a esmo qualquer rumo, vai entrando pelas ruazinhas mais estreitas e curtas, apara acabar chegando de novo a Casa do Cenáculo. Ela esta toda fechada. Como se tivesse sido abandonada.

Lá ele para. E olha para Ela. “A Mãe!”, murmura ele. “A Mãe...” e fica indeciso... “Eu também tenho uma mãe. E matei um filho de uma mãe!...” Mas que erro entrar... “e tornar a ver aquela morada. Lá não há sangue...”.

Ele da uma batida na porta. Outra batida. Mais outra... A dona da casa vem abrir, e entrefecha a saída. Há uma fenda... E ela, vendo aquele homem perturbado e irreconhecível, dá um grito, e procura fechar de novo a saída. Mas Judas com um empurrão, a torna a abrir e, desviando-se da mulher espantada, passa para frente.

Ele corre para a portinha, por onde se vai para o Cenáculo, e a abre, e entra. Entra com um belo sol batendo nas janelas escancaradas. Judas da um suspiro de alivio. Depois caminha para diante. Aquilo tudo esta calmo e silencioso. A louça esta ainda como foi deixada. Compreende-se que ate agora ninguém precisou dela. Poder-se-ia também pensar que ela está para ser posta na mesa.

Judas se dirige para a mesa. Vai ver se há vinho nas ânforas. E há. Ele bebe com avidez diretamente da ânfora, que ele segura com as duas mãos. Depois ele se deixa cair sentado, apoiando sua cabeça sobre os braços em cima da mesa. Ele não se dá conta de ter-se assentado justamente no lugar de Jesus, nem que ele tem em sua frente o cálice que foi usado na Eucaristia. Fica parado por algum tempo, até que sua respiração ofegante se acalme. Depois ele levanta a cabeça, e vê o cálice. E ai é que ele descobre onde é que esteve sentado.

Levanta-se como um possesso. Mas aquele cálice o fascina. Um pouco de vinho vermelho ainda esta lá no fundo, e o sol batendo no metal, que parece ser prata, põe fogo naquele liquido. “É sangue, sangue ate aqui. O sangue dele...” Fazei isto em memória de Mim... Tomai e bebei. Isto é o meu Sangue... O Sangue do Novo Testamento, que será derramado por vós... “Ah! Maldito que eu sou! Por mim ele não pode mais ser derramado, pela remissão do meu pecado. Eu não peço perdão, porque Ele não me pode perdoar. Fora! Fora! Não existe mais um lugar onde o Caim de Deus possa ter descanso. A morte! A morte!...”.

Ele sai. E vê na frente Maria, que esta de pé na porta do salão, onde Jesus a deixou. Tendo ela ouvido um rumor, foi à janela, esperando que ia ver João, que, há muitas horas esta sumido. Ela esta pálida como alguém que perdeu sangue. Esta com os olhos que a dor fez ficar ainda mais parecidos com os de seu Filho. Judas vai ao encontro daquele olhar, que o esta fitando, com aquele mesmo amargurado e consciente conhecimento com que Jesus olhou para ele na rua, e, com um “oh!” apavorado, ela se encosta a parede.

“Judas!”, diz Maria. “Judas, que viste fazer?” São estas as mesmas palavras que Jesus lhe disse. E as disse com um amor cheio de dor. Judas se lembra disso, e grita.

“Judas!”, repete Maria, “que viste fazer?” A tão grande amor, tu correspondeste com a traição?” A voz de Maria é uma caricia que treme.

Judas esta procurando escapar... Maria o chama com uma voz, que teria convertido um demônio. “Judas! Judas! Para aí! Para aí! Escuta. Eu te digo em nome dele. Arrepende-te, Judas. Ele perdoa...” Mas Judas foge.

A voz de Maria, a vista dela foi o golpe de graça, ou seja, da desgraça, porque ele resistiu.

Ele vai para o precipício. Encontra-se com João, que passa correndo para a casa a fim de fazer companhia a Maria. A sentença já foi pronunciada. Jesus já esta para ir ao Calvário. Já é hora de a Mãe ser levada ao Filho.

João reconhece Judas, mesmo restando só pouca coisa do belo Judas de pouco tempo atrás. “Tu aqui?”, pergunta-lhe João, com evidente horror. “Tu aqui?” Que a maldição caia sobre ti, assassino do Filho de Deus. O Mestre foi condenado. Alegra-te, se o podes fazer. Mas limpa o caminho. Eu vou acompanhar a Mãe. Que ela, que é a tua segunda vitima, não se encontre contigo, ó serpente!”.

Judas foge. Ele enrolou a cabeça com farrapos do manto, deixando somente uma fresta para os olhos. As pessoas, as poucas pessoas que não foram ao Pretório, se afastam dele, como se estivessem vendo um doido. E isso é o que ele parece ser.

Ele vai caminhando, sem rumo certo, através dos campos. O vento de vez em quando, traz o eco do clamor da turma que acompanha a Jesus, maldizendo-O. E cada vez que o vento faz chegar esse eco aos ouvidos de Judas, ele grita como um chacal.

Eu creio que ele realmente endoideceu, porque esta batendo a cabeça cadenciadamente, contra as muretas de pedra. Ou, então, ele se tornou um hidrófobo, porque, quando vê um liquido, seja qual for: a água, o leite levado em uma vasilha por algum menino, o óleo que transpire de um odre, ele grita, grita e brada: “Sangue! Sangue! É o sangue dele!”.

E ele bem que quereria ir aos córregos e às fontes beber. Mas não consegue, porque a água lhe parece sangue, e ele diz: “É sangue! É sangue! Ele me afoga! Ele me queima. Estou no fogo. O seu sangue, que ontem Ele me deu, tornou-se dentro de Mim maldição, para mim e para Ti!”.

Ele sobe e desce pelas colinas que rodeiam Jerusalém. E seus olhos, irresistivelmente, se dirigem para o Gólgota. E por duas vezes ele vê de longe o cortejo, que se espalha pela subida. Ele olha e grita.

Ei-lo chegado ao cume. Até Judas esta no alto de uma pequena colina, coberta de oliveiras. Ele penetrou até lá, abrindo uma cerca rústica, como se ele fosse dono dela ou, pelo menos, muito acostumado com aquilo.

Tenho a impressão, neste momento, de que Judas não tivesse muito respeito pelas propriedades dos outros. De pé, por baixo de uma oliveira, no limite marcado por um outeiro, ele olha para o Gólgota. E esta vendo quando levantam as cruzes e fica sabendo que Jesus já esta crucificado. Ele não pode ver nem ouvir. Mas, ou o delírio, ou algum malefício de satanás o fazem ver e ouvir, como se estivesse lá no alto do Calvário.

Ele olha, e torna a olhar, como um alucinado. E procura verse livre daquilo: “Não! Não! Não me fiques olhando. Eu não suporto isso! Morre, morre, maldito. Que a morte te feche esses olhos, que me dão medo, e essa boca que me amaldiçoa. Porque não me salvaste.”

O rosto dele esta de tal forma desfigurado, que não se pode mais olhar para ele. Dois fios de barba descem de sua boca, que esta gritando. A face que foi mordida esta lívida e inchada, e o seu rosto me parece retorcido. Seus cabelos estão grudados e sua barba escura e muito crescida sobre as faces que naquelas horas parecem uma mordaça lúgubre posta sobre as maças do rosto e sobre o queixo. Mas, os olhos, então, olham ao redor, torcem-se para os lados, estão fosforescentes. Como um verdadeiro demônio.

Ele arranca de sua cintura o cordão de uma lã grossa e vermelha e cinge-se com ele, dando três voltas. Depois experimenta a força dele, amarrando-o ao redor de uma oliveira e puxando-o com toda sua força. E ele resistiu. Está bem forte. Depois ele escolhe uma oliveira, que satisfaça às suas necessidades. E encontra esta que estende seus galhos para além do barranco e tem sua copa toda despenteada. Esta é boa. Ele sobe na arvore. Amarra firmemente a ponto com um nó corrediço ao galho mais forte e que se estendeu por cima de um lugar livre. Ele olha uma ultima vez para o Gólgota. Depois enfia a cabeça no nó corrediço. Agora ele esta parecendo ter dois colares vermelhos na base do pescoço. Assenta-se virado para a colina. Depois, de repente ele deixa se deslizar sobre o lugar livre.

O nó lhe aperta o pescoço. Ele se debate por alguns minutos. Seus olhos parecem querer saltar para fora, ele fica preto, por causa da asfixia, e abre a boca, as veias do pescoço se incham e ficam pretas. Ele da quatro ou cinco pontapés no ar, em suas ultimas convulsões. Depois sua boca se abre, a língua escura fica pendurada dela, fica babando, ficam descobertos os globos oculares, e estufados, deixando que se veja a parte branquicenta injetada de sangue. A Iris desaparece no alto. Ele morreu.

O forte vento que se levantou, ao estar eminente uma tempestade, balança o macabro pendulo, e o Poe em rotação, como se fosse uma aranha horrorosamente feia, suspensa pelo fio da teia.

A visão termina assim. Desejo para mim esquecer-me logo de tudo isso, pois eu vos asseguro que é uma visão horrenda.


Diz Jesus:

“Uma coisa horrenda, mas não inútil. Há muita gente que crê ter Judas cometido uma falta pequena. Alguns chegam até a dizer que ele é um benemérito, porque sem ele a Redenção não se teria realizado e que por isso ele esta justificado aos olhos de Deus.

Em verdade Eu vos digo que se o Inferno ainda não existisse, e não tivesse existido com os seus tormentos, teria sido criado para Judas, ainda mais horrendo e eterno,porque de todos os pecadores e condenados ele é o mais condenado e pecador, e, para ele, eternamente não haverá atenuação da condenação.

O remorso o poderia até ter salvado, se ele tivesse transformado o remorso em um arrependimento. Mas ele nãos quis arrepender-se, pois ao primeiro delito de traição, que era perdoável, por causa da grande misericórdia que é a minha amorosa fraqueza, ele ainda acrescentou as blasfêmias, as resistências às palavras da Graça, que ainda lhe queriam falar através das recordações, através dos terrores, através do meu Sangue e do meu manto, através do meu olhar, através dos sinais da instituição da Eucaristia, através das palavras de Minha Mãe.

Ele resistiu a tudo. Ele quis resistir, como também quis maldizer, como quis suicidar-se. E é à vontade o que se leva em conta nas coisas. Tanto para o bem, como para o mal.

Quando alguém cai sem vontade de cair, Eu perdoo. Veja o caso de Pedro. Ele me negou. Por quê? Nem ele mesmo sabia exatamente o porquê. Seria um covarde, Pedro? Não. O meu Pedro não era um covarde. Contra a coorte e os guardas do Templo, ele tinha ousado ferir Malco, apara defender-Me e até para arriscar-se a ser morto por isso. E depois ele fugiu. Mas sem ter tido a intenção de fazer aquilo. Depois, porem, ele soube ficar comigo e proceder bem no caminho, até chegar a minha morte na cruz. Depois ele soube muito bem dar testemunho de Mim, ate o ponto de chegar a ser morto por sua fé intrépida. Eu defendo o meu Pedro. Seu extravio, ao negar-Me, foi o ultimo de sua humanidade. Mas é que sua vontade espiritual não lhe estava presente naqueles momentos. Com o espírito desvairado pelo peso de sua natureza humana, ele estava dormindo. E, quando despertou, não quis ficar no pecado, e quis ser perfeito. E Eu o perdoei imediatamente.

Judas não quis. Tu dizes que ele parecia um louco e hidrófobo. O que ele tinha era uma raiva satânica. O seu terror, ao ver o cão, um anima, um animal raro, especialmente em Jerusalém, o seu terror vem do fato de que se atribuía a satanás, desde os tempos imemoriais, aparecer aos mortais, sob aquela forma. Nos livros de magia se lê ainda hoje que uma das formas preferidas por satanás, a fim de aparecer aos homens é a de cão misterioso, ou de um gato, ou de um bode. Judas, já tomado pelo terror nascido nele pelo seu delito, convencido como estava de ser ele de satanás pelo seu delito, chegou a ver satanás naquele animal vadio.

Quem é culpado vê em tudo sombras que amedrontam. E é sua consciência que as cria. Depois satanás aumenta aquelas sombras, que ainda poderiam dar arrependimento a um coração, e transforma em fantasmas horrendos, que levam ao desespero. E o desespero leva ao ultimo delito: o suicídio. Que vantagem há em jogar fora o preço da traição se esse despojamento é somente um fruto da ira, e não é valorizado por uma vontade reta de arrependimento? Pois, se assim fosse, então o despojar-se dos frutos do mal se torna um ato meritório. Mas do jeito que ele fez, não. Foi um sacrifício inútil.

Minha Mãe, e Ela era a própria graça quando falava, e também minha Tesoureira, que perdoava em meu Nome, havia dito a ele: “Arrepende-te, Judas. Ele perdoa...”

Oh! Se Eu o tivesse perdoado! Se ele se tivesse jogado aos pés da Mãe, dizendo: “Piedade!” Ela, a piedosa, o teria recolhido como a um ferido e, sobre as suas feridas satânicas pelas quais o inimigo lhe tinha inoculado o delito, teria derramado o seu pranto que salva, e o teria trazido a Mim, aos pés da Cruz, segurando-o pela mão, para que satanás não o pudesse arrebatar, e os discípulos feri-lo, e levado para lá para que o meu Sangue caísse em primeiro lugar sobre ele, o maior dos pecadores. E teria sido Ela a Sacerdotisa admirável sobre o seu altar, entre a Pureza e a Culpa, porque é Mãe dos Virgens e dos Santos, mas também Mãe dos Pecadores.

Mas ele não quis. Meditai no poder da vontade da qual vós sois árbitros absolutos. Por ela podeis ter o Céu ou o Inferno. Meditai sobre o que é que quer dizer persistir na culpa.

O Crucificado, Aquele que esta com os braços abertos e pregados, para dizer-vos que vos ama e que não quer, não pode ferir-vos, porque vos ama, e prefere dizer que não nos pode abraçar, sua única dor, por sua posição pregado na Cruz, mais do que ter a liberdade de punir-vos, o Crucificado é objeto da divina esperança para aqueles que se arrependem e que querem ficar livres da culpa, que se torna para os impenitentes objeto de um tal horror, que os faz blasfemar e usar de violência contra si mesmos. Assassinos de seu espírito e de seu corpo, por sua persistência na culpa, e o aspecto do Manso, que se deixou imolar, na esperança de salvá-los, assume a aparência de um espectro horroroso.

Maria, tu te lamentaste desta visão. Mas esta é a Sexta-Feira da Paixão, minha filha. Tu deves sofrer. Aos sofrimentos, por causa dos meus sofrimentos e os de Maria, deves unir os teus, pela amargura de ver os pecadores continuarem sendo pecadores. É esse o nosso sofrimento. E deve ser o teu. Maria sofreu, e sofre ainda por isso, como sofre por minhas torturas. Por isso é que deves sofrer por isto. Agora, descansa. Daqui a três horas serás toda Minha e de Maria. Eu te abençoo, ó violeta da Minha Paixão, e passiflora de Maria.

Excertos do Decimo Livro: O Evangelho como me foi revelado, onde Nosso Senhor e Maria Santíssima revelam Suas Vidas a Grande Mística Maria Valtorta, das paginas 71 a 82.

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Continuação:

Artigo N.º 10520 - Maria Valtorta: O Evangelho como me foi revelado - Parte 4

 

 

 




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