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Artigo N.º 3551 - Bendita crônica
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Postado em: 03/11/09 às 23:27:54 por: James
Categoria: Marisa Bueloni
Link: http://www.espacojames.com.br/?cat=123&id=3551
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Por Marisa Bueloni


Às vezes, nós, mortais escribas, padecemos da idéia de que tudo o mais já foi escrito, todos os temas e assuntos possíveis e imagináveis já foram exaustivamente abordados, analisados, debatidos, comunicados.

     Já se escreveu sobre a fome no mundo, sobre a violência, o aquecimento global e a escassez de água e também da nossa obrigação de usar racionalmente os recursos naturais. Já foram abordadas as grandes questões da humanidade, da política à filosofia, à luz da ciência e da “achologia”. 

     Já se incursou pelos conceitos da educação, beleza, saúde, arte, cultura,  qualidade de vida, direitos humanos e direitos dos animais. Debateu-se a igualdade entre os sexos,  lutou-se pela justiça e pela paz. Já se abominaram as queimadas de cana... 

     Então, nos cruciais momentos de  crise produtiva, o escrevinhador curioso e pensante vai bater numa porta que nunca se fecha: a porta da crônica. Neste sagrado frontispício está gravada uma inscrição libertadora, dizendo que a crônica constitui um território livre, acima do bem e do mal. São muitos os que se abrigam neste salutar gênero literário, onde as palavras e seus fonemas se soltam das amarras. 

     Então, com permissão poética, pode-se contar que o dia está lindo, o céu azul, as avezinhas saltitam pressurosas, mas uma nuvem sombria no horizonte traz um pressságio qualquer; que nosso corpo está são ou doente, nosso espírito ora se encontra combalido, ora combatente. Bendita crônica! 

     Bendita crônica que nos permite permanecer naquela zona de atenção, entre o despudor da primeira pessoa e o medo de parecer vulgar. Bendita crônica que ultrapassa a mera inspiração, abrindo-nos um leque precioso de imagens e lembranças. Bendita crônica que nos ensina o valor da palavra e nos ajuda a escrevê-la com dignidade, buscando as entranhas dos significados, semântica de ciência exata, sintaxe dos sonhos. Para cada tentativa de exprimir-se, um vocáulo apropriado. Não se usa “preso” quando se que dizer “detido”. 

     Mas a crônica não aprisiona ninguém, nem ao escritor preocupado em não ser repetitivo, em escrever o que os outros já escreveram, com superiores dons estilísticos. A cronista humilde reconhece sua pequenez no universo das letras e admite que anda cansada das causas. Já lutou muito com as palavras e julga ter conquistado o direito ao repouso. Que as palavras de luta descansem em paz. 

     Nunca se sabe em que pedaço da história perdemos nossa identidade. Se será preciso voltar à caverna imemorial dos nossos antepassados, para onde o macho arrastou a fêmea, ameaçando-a com o fêmur de um ancestral do javali. Não sei se na era do gelo perdi minha ilusão. Se já avistei um pterodáctilo no jurássico céu, se avistei o novo mapa-mundi previsto para o ano de 2012, com a Terra invadida pelas águas, ou se já sofri o tormento da seca e da sede, na profecia do árido futuro. Em alguma era perdida, lá ficou meu coração. 

     Bendito texto despudorado, onde despimos nossa tímida veste verbal. Que ele  vá, manso e novo,  novo ou velho,  ao encontro do leitor que se senta num café, abre o jornal e o procura. Liga o computador e o encontra. Que o coração do leitor se inflame com a busca de sua própria ilusão. Talvez o leitor nunca a tenha perdido. Sorte dele. 

     Sorte a minha de poder vagar pela crônica a esta altura da vida,  noctívaga e ambulante, carregando os apetrechos da fantasia, rumo ao desconhecido. Tenho uma carrocinha cheia de doces, de sonhos recheados com creme e mel. Avisto uma estradinha de terra batida, ladeada por arbustos graciosos, as florinhas dançando ao vento. Um campo de girassóis. Uma casinha meiga, com primaveras roxas pintando os muros do portão. 

     Na minha visão, sempre é dia.    Quando a noite é escura demais, chamo pelo Anjo do Senhor e de mãos dadas com Ele a atravesso, sem medo de passar pelo vale das trevas. Seu cajado me sustenta, n´Ele confio. Posso ver os prados verdejantes, as fontes cristalinas. A Ele entrego estas linhas canhestras que vão tropeçando nas vírgulas, ofegantes e cansadas, mas que chegam inteiras até o fim.



Marisa Bueloni é formada em pedagogia e orientação educacional- marisabueloni@ig.com.br



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