

Postado em: 04/02/11 às 21:44:36 por: James
Categoria: Marisa Bueloni
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(Marisa Bueloni)
Às vezes, o coração acorda e se recobra da dor. Sai das sombras e das penumbras, para receber o oxigênio da vida, da luz e da paz. Não se sabe por que tais momentos se alternam e se fixam em nossos sentidos. Às vezes, o consolo vem de onde menos se espera. De uma xícara de café, de um poema, um salmo bíblico, um e-mail caloroso e solidário, um abraço inesperado, uma canção que alguém assobia ao léu.
Dia 20 de novembro foi o Dia Mundial da Filosofia e desejei tanto ter escrito algo de significativo, que justificasse minha presença neste site. Desejava refletir junto dos leitores sobre o legado que a vida nos dá, todos os dias. Ainda que tudo seja vaidade e vento que passa.
A vida nos dá a esperança por um momento e também no-la tira no instante seguinte. A gangorra em que nos movemos é nosso chão cotidiano. Temos boas e más notícias a toda hora e vamos sobrevivendo a elas, porque nosso coração bate e encontramos mãos acolhedoras, sempre. Nunca estamos sós, na verdade. Ninguém é uma ilha, a não ser que deseje sê-lo. Penso nos eremitas, refugiados no alto dos penhascos, nas cavernas, nos lugares ermos, vivendo com muito pouco. Eles existem ainda?
Não escrevi um texto filosófico, mas deixo aqui uma pergunta que também me faço todos os dias: quem somos nós, por que estamos aqui e o que fazemos com nossa vida? Como trabalhamos a singularidade do dia-a-dia, com todas as suas instâncias, sua grandeza e sua miséria. Do momento em que tiramos o carro da garagem ao repouso sagrado em nossa cama abençoada (aviso aos navegantes: já encontrei o travesseiro certo, viu?). Como distinguir entre aparência e essência, no discurso dialético de nossas vagas impressões?
Espero, de todo o coração, que cada um tenha equilíbrio e lucidez para investigar o sentido da vida e buscar nele uma força maravilhosa, haja o que houver, porque não nascemos para rastejar e sim para saudar o sol de cada manhã, conforme a vontade do Criador. Que possamos todos encontrar o sentido do amor, das relações humanas, da família, da religião, do trabalho e das múltiplas realizações, num mundo que se fragmenta a olhos vistos, na perda dos valores morais e da fé.
Como um jardineiro zeloso cuida de suas plantas, assim deveríamos cuidar da nossa existência, sem jamais deixar faltar água, luz, sol, ar e os “adubos” complementares para chegarmos à idade adulta com alguma sabedoria e espírito crítico. Há um ditado que diz: “O homem que acredita em tudo é tão tolo quanto aquele que não acredita em nada”. E assim, penso que devemos ter nossas crenças, nossa base pessoal, nossos princípios morais, nossos sonhos e ilusões. O homem não pode perder a capacidade de sonhar. É o sonho que nos mantém vivos, além de nós mesmos e dos nossos passos ao longo do caminho.
Há os que rezam e há os que rogam pragas. Há os que planejam o mal e perseguem os outros; há os que vivem fazendo caridade e ajudando o próximo. Há os que se desesperam e tomam atitudes das quais virão a se arrepender amargamente; há os equilibrados e que sabem manter a calma. Há os que dão tudo como perdido e os que alimentam com fé a chama bendita da esperança! Há os que chafurdam na revolta e se amoldam a ela; há os que esperam e confiam em Deus.
Às vezes, acordamos da dor. Nem sempre sair do estado doloroso nos ajuda a enxergar melhor. Dizem que a pessoa sábia faz seu próprio destino, escreve as páginas da sua vida, é dona de si, assim como o homem é escravo da sua palavra e senhor do seu silêncio.
Paz, quietude, farfalhar de folhas na brisa da tarde – ah, recanto bendito, onde o verde acalma o corpo e o espírito. Mesmo na calmaria benfazeja, a vida nos coloca de frente para um abismo aparentemente aterrador. Temos de permanecer ali, à beira da pedra, olhando para baixo, sabendo que lá, nas profundezas da mata, também existe uma paisagem oculta, inexplorada, que pode ser bela, apesar do nosso medo e da escuridão à nossa volta, quando tudo o que se deseja é a limpidez, a clareza da vida.
Ó vida, seja clara para nós e não nos roube os que amamos – todos nós rezamos esta oração. No entanto, quantas despedidas, quantas lágrimas, quantas saudades! E quantos mistérios! Às vezes, acordamos da dor e vemos que estamos mais fortes, mais preparados, robustecidos por uma força estranha, quando o sol rompe a penumbra do quarto, entrando pela casa, incendiando de luz nossa alma pequenina.
Ó, meu raio de luz! Ó, meu raio de sol! Fique comigo, aqueça-me, gere a vida, enquanto vida houver.