espacojames



Página Inicial
Listar Destaque




Artigo N.º 10854 - O Catolicismo e o judaísmo diante do conformismo social da “questão gay”
Artigo visto 3294




Visto: 3294
Postado em: 05/04/13 às 10:11:38 por: James
Categoria: Destaque
Link: http://www.espacojames.com.br/?cat=41&id=10854
Marcado como: Artigo Simples
Ver todos os artigos desta Categoria: Destaque


Ernesto Galli Della Loggia, professor do Instituto Italiano de Ciências Humanas de Florença (SUM), em artigo publicado no jornal Corriere della Sera

No século XVIII, na sua batalha contra as religiões oficiais, equiparadas sem tanta cerimônia a muitas outras superstições, o Iluminismo francês, destinado a fazer escola em toda a Europa continental, certamente não teve que lidar somente com o catolicismo. Ao invés. O judaísmo, por exemplo, foi um alvo seu, talvez ainda mais usual: basta pensar nas tantas páginas de Voltaire repletas de insultos contra a religião mosaica.

 

Depois, entre os anos 1700 e 1800, as coisas mudaram rapidamente. Sobretudo porque o judaísmo mudou. De fato, aconteceu que, na Europa (principalmente ocidental), um grande número de judeus começou a avançar em um percurso de radical emancipação-secularização que os levou a se integrar plenamente com as elites secular-liberais no caminho de tomar o poder em toda a parte: da religião dos pais, conservando ao máximo qualquer vestígio ritual.

Desde então, a crítica antirreligiosa de ascendência iluminística começou a pôr na mira, no âmbito ocidental, quase que exclusivamente o catolicismo, quase como se ele fosse a única religião que restou na face da terra. Uma tendência que foi se afirmando cada vez mais, especialmente na Itália, e muitas vezes – é preciso dizer – com o consenso tácito de grande parte da intelligentzia de origem judaica, mais ou menos favorável a valorizar implicitamente a ideia – bizarríssima, mas muito “politicamente correta” – de que, no fim das contas, o judaísmo não é nem uma religião. Ou é, mas tão diferente de todas as outras, tão diferente, que, no fim, não é!

 

Especialmente na Itália, eu escrevi. E, de fato, quando entre nós [italianos] se falar sobre assuntos que, de algum modo, envolvem a fé religiosa, o judaísmo tende a não ter e/ou não fazer parte alguma. E, portanto, ele tende a não ser mencionado nunca. Basta pensar em toda a discussão sobre a liceidade da engenharia genética, da eutanásia ou do matrimônio entre homossexuais.

Debatendo-se sobre essas coisas, é como se o judaísmo tivesse descido nas catacumbas, tanto a sua voz é tênue ou ausente. Com o resultado de que a voz da Igreja Católica, ao invés, é facilmente apresentada como a única que, em nome de uma visão religiosa, está empenhada em defender posições.

 

Ao invés, para nos lembrar de que as coisas não estão assim, de fato, e de que justamente sobre os assuntos que eu citava antes são, vice-versa, muito profundos os laços teológicos e doutrinais entre o judaísmo e o catolicismo (e o cristianismo em geral, eu diria), socorre-nos um recente documento importante de uma autoridade do judaísmo europeu como o Grão-Rabino da França, Gilles Bernheim, intitulado “Matrimônio homossexual, homoparentalidade e adoção”.

Bernheim inicia com o ponto decisivo, isto é, contestando que tais temas tenham como verdadeira questão em jogo um problema de igualdade de direitos. O que está em jogo, ao invés, escreve ele, é “o risco irreversível de uma confusão das genealogias, dos estatutos e das identidades, em detrimento do interesse geral e em benefício do de uma ínfima minoria”.

 

De um modo que me parece compartilhável até do ponto de vista de um não crente, ele desmonta um a um os argumentos habitualmente usados em favor do casamento homossexual: da exigência de proteção jurídica do potencial conjunto, à importância do querer-se bem (”não se pode reconhecer o direito ao matrimônio a todos aqueles que se amam pelo simples fato de que se amam”: por exemplo, a uma mulher que ama dois homens); às razões afetivas que justificariam a adoção de uma criança por parte de um casal homossexual.

“Todo o afeto do mundo não basta para produzir as estruturas psíquicas basilares que respondem à necessidade da criança de saber de onde vem. A criança não se constrói a não ser diferenciando-se, e isso pressupõe, acima de tudo, que ela saiba a quem se assemelha. Ela precisa saber que é o fruto do amor e da união de um homem, seu pai, e de uma mulher, sua mãe, em virtude da diferença sexual dos seus genitores”.

 

E ainda: “O pai e a mãe indicam à criança a sua genealogia. A criança precisa de uma genealogia clara e coerente para se posicionar como indivíduo. Desde sempre e para sempre, o que constitui o humano é uma palavra em um corpo sexuado e em uma genealogia”.

Bernheim não só enfrenta de peito aberto o propósito caro a muitos militantes homossexuais de substituir o conceito sexuado de “pais” por aquele assexuado e vazio de “parentalidade” e de “homoparentalidade”, mas também argumenta que não se pode falar de forma alguma de um direito de ter um filho: “O sofrimento de um casal infértil não é uma razão suficiente para obter o direito à adoção. A criança – ressalta – não é um objeto, mas sim um sujeito de direito. Falar de direito a ter um filho implica uma instrumentalização inaceitável”.

 

Naturalmente, as páginas mais densas do documento são aquelas em que, opondo-se à ideia cada vez mais difundida de que o sexo, longe de ser um fato natural, representa uma construção cultural, o Grão-Rabino, fortalecido com o relato do Gênesis, afirma, ao invés, “a complementaridade homem-mulher como princípio estruturante do judaísmo”, correspondendo ao plano mais íntimo da criação.

“A dualidade dos sexos – escreve – pertence à construção antropológica da humanidade” e é desejada por Deus também como “um sinal da nossa finitude”. Nenhum indivíduo pode pretender de ser autossuficiente, representar todo o humano, a partir do momento em que, com toda evidência, “um ser sexuado não é a totalidade das espécies”.

 

O leitor deve ter notado a forte semelhança de muitas das coisas ditas por Bernheim com as defendidas pelo magistério católico (não por acaso, recentemente, Bento XVI citou calorosamente o documento do Grão-Rabino francês). Na realidade, as vozes conjuntas do judaísmo e do catolicismo, quando evocam o que está efetivamente em jogo nesse caso – isto é, as próprias bases da sociedade em que queremos viver, a existência ontológica de dois sexos distintos, a aliança do homem e da mulher na instituição chamada a regular a sucessão das gerações, além do risco de anular de modo irreversível tal sucessão –, no momento em que fazem isso, parecem confirmar o que foi defendido à época por Jürgen Habermas acerca da importância que tem e deve ter o ponto de vista da religião no discurso público das nossas sociedades.

Tal ponto de vista, de fato, muitas vezes é precioso para compreender – por todos, crentes e não crentes, de toda pessoa livre – o que essas sociedade hoje têm o poder de fazer. E, portanto, para medir a ruptura que as suas decisões podem representar com relação às raízes mais profundas e vitais da nossa antropologia e da nossa cultura.

 

Mas do Grão-Rabino Bernheim chega outra lição. Isto é, como é importante que a discussão pública seja conduzida com coragem, desafiando o conformismo que muitas vezes anima a intelectualidade convencional e o mundo da mídia. Como é que é importante que personalidades com autoridade (por exemplo, os psicanalistas) não tenham medo de fazer ouvir a sua opinião: mesmo quando ela não é conforme ao que aparece no mainstream das ideias dominantes.

É uma lição particularmente essencial. Onde é cada vez mais raro ouvir vozes destoantes e provenientes de bocas insuspeitas, onde é cada vez mais forte a tentação de ter razão colando rótulos a quem discorda, em vez de discutir os seus argumentos, onde estão cada vez mais prontos a libertar impiedosamente os reflexos condicionados dos pertencimentos.

 

Onde – especialmente quando se trata de certas questões – não deixa de se fazer ouvir pontualmente o preconceito que tende a fazer do catolicismo o bode expiatório mais adequado para ser apontado para a execração pública pelas vestais do iluminismo e para ver chover sobre si todas as culpas (e todas as supostas culpas) do caso.


Fonte: http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/



Ajude a manter este site no ar. Para doar clique AQUI!

Saiba como contribuir com nosso site:

1) - O vídeo não abre? O arquivo não baixa? Existe algum erro neste artigo? Clique aqui!
2) - Receba os artigos do nosso site em seu e-mail. Cadastre-se Aqui é grátis!
3) - Ajude nossos irmãos a crescerem na fé, envie seu artigo, testemunho, foto ou curiosidade. Envie por Aqui!
4) - Ajude a manter este site no ar, para fazer doações Clique aqui!




Total Visitas Únicas: 10.103.385
Visitas Únicas Hoje: 447
Usuários Online: 115